De acordo com cientistas mexicanos, a obesidade seria parcialmente causada por uma disfunção neurológica. Segundo esses pesquisadores, o cheiro da comida estimularia áreas do cérebro diferentes nas crianças obesas e nas crianças com peso normal.
Na maioria dos países, a obesidade já é considerada um problema de saúde pública. O México, onde foi realizado o estudo, é o país com a maior taxa de obesidade infantil do planeta, à frente até dos Estados Unidos.
De fato, segundo dados coletados pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) em 2013, 70% da população mexicana está acima do peso e 20% das crianças de 5 a 11 anos são obesas. Este percentual sobe para 30% entre os jovens de 12 a 19 anos.
As crianças obesas correm risco maior que as demais de desenvolver diabetes, hipertensão ou doenças cardiovasculares na idade adulta. Pela primeira vez na história do México, estimou-se recentemente que as crianças viveriam em média 10 anos menos que seus pais. É por isso que, segundo os pesquisadores, é essencial entender os mecanismos cerebrais que contribuem para a obesidade.
Para realizar o estudo, os cientistas quiseram determinar os efeitos de estímulos olfativos no cérebro das crianças. Trinta crianças de 6 a 10 anos, sendo 15 meninos e 15 meninas, foram divididas em dois grupos em função de seu IMC (Índice de Massa Corporal), que corresponde ao peso dividido pela altura ao quadrado. As crianças com IMC normal (entre 19 e 24) formaram o primeiro grupo, e as crianças consideradas obesas (com IMC maior que 30) constituíram o segundo grupo.
Todas as crianças foram expostas a três estímulos olfativos diferentes: um muito calórico (chocolate), um pouco calórico (cebola) e um neutro (acetona diluída). Durante a exposição, a atividade cerebral delas foi mensurada por duas técnicas de IRM (Imagem de Ressonância Magnética).
Os resultados obtidos mostraram que no caso das crianças obesas, os estímulos olfativos ativaram a área do cérebro ligada à impulsividade e ao desenvolvimento dos TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Já no caso das crianças com peso normal, foram ativadas as áreas ligadas controle das emoções, à regulação do prazer, à organização e ao planejamento, desativadas nas crianças obesas.
Os cientistas observaram que no caso das crianças com IMC dentro da média, o cheiro de cebola estabeleceu uma conexão entre o córtex gustativo e a zona do cérebro que intervém no circuito da recompensa. Tal conexão não foi observada nas crianças obesas. A mesma constatação foi feita no caso do chocolate. No entanto, a intensidade das conexões varia segundo os estímulos olfativos: a atividade cerebral foi maior no caso das crianças obesas expostas ao cheiro de chocolate.
Assim, o estudo mostra que a obesidade pode ser associada a uma disfunção neurológica, com a impulsividade dominando a emoção controlada no caso das pessoas acima do peso. Segundo os cientistas, esta pesquisa pode melhorar o tratamento da obesidade, principalmente infantil.
Fonte : Food Odors Activate Impulse Area of the Brain in Obese Children, Pilar Dies-Suarez and al, novembre 2015, Radiological of North America.
Traduzido por Yann Walter