Uma vida social saudável pode ser tão boa para a longevidade quanto evitar cigarros, de acordo com uma pesquisa divulgada pelo jornal PLoS Medicine.
Pesquisas feitas na Brigham Young University e Universidade do Norte da Califórnia reuniram dados de 148 estudos sobre a relação entre a saúde e as relações sociais – todo o trabalho de pesquisa sobre o tema que poderiam encontrar, envolvendo mais de 300 mil homens e mulheres de todo o mundo – e descobriram que as pessoas que tinham más conexões sociais tinham, em média, 50% mais chances de morrer do que as pessoas com bons vínculos sociais.
De acordo com os autores das pesquisas, este aumento na longevidade é quase tão grande quanto à diferença de mortalidade observada entre fumantes e não fumantes. E é maior do que as diferenças no risco de morte associado à falta de exercício e à obesidade. “Não são apenas alguns estudos aqui e ali”, diz Julianne Holt- Lunstad , principal autor do estudo e professor de psicologia na Universidade Brigham Young.
“Eu espero que haja o reconhecimento da comunidade médica, a comunidade de saúde pública e até mesmo o público em geral sobre a importância disso”.
O “efeito amigo”, como chamaram, não parece variar de acordo com sexo ou idade, nem apareciam em pessoas solitárias extraordinariamente sensíveis a qualquer uma doença em particular.
Mas se é verdade que “nós conseguimos viver mais com uma pequena ajuda de nossos amigos”, então como isso acontece? Ou seja, como a integração social – medida por questionários sobre amigos, tamanho da família, estado civil e número de moradores do domicílio – influencia ao longo da vida?
A verdade é que ainda não sabemos exatamente. “A evidência crítica da relação dos processos psicossociais com a saúde surgiu somente nos últimos 10 ou 15 anos – ainda que muitas teorias sobre isso tenham aparecido a partir dos anos 70”, diz o professor de psicologia Bert Uchino no Universidade de Utah.
Um fato curioso que comprova esta relação é que nós nos voltamos para a família e para os amigos quando estamos doentes – ajudando a manter o controle dos remédios e preparar as refeições. Cuidar dos outros também pode nos levar a cuidar melhor de nós mesmos. “Um bom exemplo é alguém que tem um filho”, diz Uchino. Essa nova ligação é muitas vezes o ímpeto para parar de fumar, beber menos ou para conter qualquer atividade de risco.
Mas a influência de laços sociais pode ser ainda mais poderosa. Relações sociais podem ajudar nossos corpos a se ajudarem.
Estudos recentes mostram que, em uma situação estressante, a pressão do sangue e do coração aumenta quando as pessoas são acompanhadas por outras. Imagens do cérebro também mostram diferenças neurológicas entre uma pessoa que está sozinha e uma pessoa que tem apoio em uma situação tensa induzida pelo laboratório: a atividade cerebral no córtex cingulado anterior, uma região ativada em momentos de estresse, é atenuada quando as pessoas têm um amigo ou parente ao lado.
É bom ter a mãe em momentos de tensão
E não é apenas estresse adulto. Em um experimento publicado recentemente, crianças que foram autorizadas a falar com suas mães depois de um encontro estressante mostraram aumento dos níveis de oxitocina, um neurotransmissor que diminui a resposta ao estresse hormonal, em comparação com crianças que não tiveram contato com as suas mães.
Em um dos mais famosos experimentos de saúde e vida social, Sheldon Cohen, da Carnegie Mellon University, expôs centenas de voluntários saudáveis ao vírus do resfriado comum. Em seguida, eles foram colocados em quarentena por vários dias. Cohen mostrou que os participantes do estudo com mais conexões sociais e mais diversidade de redes sociais – ou seja, com amigos de diversos contextos sociais, como trabalho, igreja e esportes – foram menos propensos a desenvolver um resfriado do que os participantes socialmente isolados do estudo.
Cultive amizades
O sistema imunológico de pessoas com vários amigos trabalhou melhor, combatendo o vírus. Estudos sugerem que o que a resposta imunológica pode ser afetada pelos hormônios do estresse – catecolaminas e glicocorticóides – e uma boa vida social afeta, assim, o sistema imunológico, ajudando as pessoas a manter o estresse fisiológico em cheque.
Mas transformar as pesquisas em conselho médico não é fácil. “É difícil legislar relações sociais”, diz Holt-Lunstad. “E todos sabemos que alguns relacionamentos são melhores que outros e nem todos são inteiramente positivos”.
Desde que o novo estudo de “Holt-Lunstad analisou a associação entre o risco de mortalidade e a quantidade de relacionamentos, ao invés da qualidade, ela se pergunta se não veríamos benefícios ainda melhores se nos concentrássemos apenas nas boas relações.
Reforçar essas conexões pode ajudar as pessoas a ficarem mais saudáveis do que tentar construir conexões entre completos estranhos. “Precisamos prestar mais atenção às relações que ocorrem naturalmente”, diz Holt- Lunstad.
Este artigo foi extraído e traduzido do site da Dana Fondation