Já se sabe que açúcar e gorduras afetam o organismo por meio de bactérias intestinais. Menos conhecidos, porém, são os efeitos nocivos destas substâncias no cérebro.
Um estudo conduzido por Kathy Magnusson, professora em uma universidade de medicina veterinária, demonstrou que o consumo de açúcar ou gorduras influencia diretamente nossas capacidades intelectuais, sobretudo a memória e a flexibilidade cognitiva.
Esta influência foi observada em ratos submetidos a três regimes distintos: um rico em gorduras, outro rico em açúcar e um terceiro normal, para fins de controle. Durante todo o período do regime, os animais foram submetidos a uma série de testes para mensurar seu desempenho cognitivo.
Os testes foram realizados em um aquário, dentro do qual foi instalada uma plataforma submersa. Quando colocado na água, o rato nadava até encontrar a plataforma – que ele não podia ver – e subia nela para descansar. Em condições normais, ou seja, com animais sadios e sem que a posição da plataforma fosse alterada, os ratos conseguiam reduzir progressivamente o tempo em que ficavam nadando à procura da plataforma. Essa experiência permitia testar a memória do animal. Para avaliar a flexibilidade cognitiva, a posição da plataforma no aquário era alterada e o rato tinha que se adaptar para reencontrá-la.
Kathy Magnusson observou tempos de “navegação” mais longos que o normal para os ratos submetidos aos regimes ricos em gorduras ou açúcar, sendo que esta tendência ficou mais marcada no teste da flexibilidade cognitiva do que no teste da memória.
Para entender melhor o conceito de flexibilidade cognitiva, imagine que você está no seu carro, voltando para casa, pelo mesmo caminho de sempre. Ou seja, fazendo algo que você está condicionado a fazer. Um belo dia, a estrada está interditada, e você deve procurar outro caminho para voltar à sua casa. Se você tiver flexibilidade cognitiva, conseguirá se adaptar rapidamente e encontrar a melhor alternativa. Caso contrário, terá um retorno para casa muito mais estressante.
Para Kathy Magnusson, os resultados mostram claramente que as bactérias intestinais podem “comunicar” com o cérebro ao liberarem elementos que atuam como neurotransmissores estimulando os nervos sensoriais ou o sistema imunitário, podendo afetar diversas funções biológicas. Grandes quantidades de açúcar ou gorduras modificam a flora intestinal e, consequentemente, a forma como a mesma atua em nosso funcionamento biológico.
Fonte : Magnusson K.R., Hauck L., Jeffrey B.M., Elias V., Humphrey A., Nath R., Perrone A., Bermudez L.E. Relationships between diet-related changes in the gut microbiome and cognitive flexibility. Neuroscience. 2015 Aug 6;300:128-40. doi: 10.1016/j.neuroscience.2015.05.016. Epub 2015 May 14.