Os humanos evoluíram para sobreviver em ciclos de dia e noite de 24 horas. Os nossos ritmos biológicos acompanham este ciclo, assim como os de todos os organismos sensíveis à luz no planeta, desde as bactérias. Este ritmo, conhecido como circadiano, é governado por uma estrutura no cérebro, como se fosse um relógio interno.
Este relógio interno é mais conhecido por determinar o ciclo de sono e vigília. Quando ele perde o sincronismo, como ocorre com alguns distúrbios do sono, diferença de fuso horário, ou mudança de turno de trabalho, o padrão do sono é quebrado, o que afeta o desempenho cognitivo e o funcionamento geral do corpo. Nota-se diferença no quanto comemos, como absorvemos remédios, como doenças se desenvolvem, entre outras coisas. Se isso já ocorre na Terra, onde nosso corpo está totalmente adaptado, como seria se morássemos em Marte, onde o dia é mais longo? Como fazer para ajustar o relógio do cérebro?
Nos seres humanos, a central de controle do sistema circadiano reside num pequeno conjunto de células nervosas localizadas logo atrás dos olhos. Essas células recebem informações sobre luminosidade diretamente da retina através do nervo ótico e depois envia sinais a outras partes do corpo, ajustando-as diariamente ao ciclo de claridade e escuridão.
O sincronismo entre nosso relógio interno e o ambiente externo é crítico porque nosso corpo faz coisas diferentes durante o dia e a noite. Por exemplo, através da evolução, o corpo humano se ajustou a processarcomida durante o dia, enquanto que o de um animal notívago está ajustado para se alimentar à noite. A ciência está aproveitando essas características do corpo para estudar a absorção de medicamentos a cada hora do dia e desenvolver tratamentos que capitalizam em cima desse ritmo diário.
Agora, o que aconteceria se um ser humano vivesse em Marte, onde o dia tem 24 horas e 39 minutos? Essa é uma linha de pesquisa na NASA e, por incrível que pareça, esses 39 minutos a mais podem influenciar muito o corpo humano.
Estudos anteriores descobriram que se colocarmos pessoas saudáveis num ambiente experimental que simula o dia marciano, com a intensidade de luz igual à da estação espacial internacional, o sistema circadiano perde o sincronismo. O resultado é sono quebrado, comprometimento cognitivo e problemas metabólicos, justamente o que não poderia acontecer com um astronauta há mais de 85 milhões de quilômetros de casa.
Como o relógio interno do cérebro é sensível à luz, um grupo de cientistas descobriu que é possível reprogramar o cérebro para um dia mais longo expondo as pessoas a pulsos de luz em horários determinados. Eles utilizaram dois pulsos de 45 minutos de duração de uma luz muito clara, com uma hora entre cada pulso no final do dia. A intensidade da luz era semelhante à do nascer ou por do sol. Ao final de 30 dias, essas pessoas tinham conseguido se adaptar ao dia marciano, demonstrando comportamento e funcionamento fisiológico normais.
Os pesquisadores esperam um dia conseguir oferecer um tratamento baseado em pulsos de luz que seriam disponibilizados em voos internacionais para ajudar os passageiros a se adaptar ao fuso horário, ou a trabalhadores que mudam de turno.
Como já foi dito em artigos anteriores do Cérebro Melhor, o sono é fundamental para o bom funcionamento do cérebro, auxiliando principalmente na aprendizagem. Mas, além do sono, outros fatores fundamentais para a saúde do cérebro são a alimentação balanceada, a socialização, os exercícios físicos, o controle do estresse e, é claro, os estímulos cognitivos, como os oferecidos pelos exercícios do Cérebro Melhor.