Albert Einstein, Alan Turing e outros brilhantes matemáticos não tinham um cérebro diferente do nosso. No entanto, eles o usavam de forma diferente. Segundo um estudo recente, os matemáticos utilizam áreas do cérebro específicas, inativas nas pessoas normais. Então, como funciona o cérebro dos gênios em matemática?
As origens das capacidades humanas para a matemática são discutidas até hoje. De acordo com algumas teorias, essas capacidades são fundamentadas em circuitos cerebrais antigos, envolvidos inicialmente com espaço e números. Outras teorias sugerem que elas estão vinculadas aos circuitos cerebrais responsáveis pelo tratamento da linguagem. Para determinar a origem das aptidões em matemática e os sistemas cerebrais envolvidos nelas, os cientistas M. Amalric e S. Dehaene, pesquisadores em neuroimagem cognitiva da Unidade Inserm-CEA, na França, utilizaram a IRM funcional para avaliar a atividade cerebral de 15 especialistas em matemática (homens e mulheres com idade média de 29 anos) e a de 15 pessoas que estudam matemática, mas não são especialistas.
Os participantes ouviram 72 propostas matemáticas complexas, igualmente distribuídas entre álgebra, análise, geometria e topologia, e 18 declarações não matemáticas, históricas em maioria. Eles tiveram quatro segundos para pensar em cada proposta e determinar se era certa, errada, ou sem sentido.
Os resultados mostraram que as áreas do cérebro ligadas à linguagem e à compreensão são ativadas quando os participantes pensam nas propostas não matemáticas, respondidas corretamente em dois terços dos casos. Ao contrário, para a análise das propostas matemáticas, os pesquisadores observaram que as áreas correspondentes aos números, aos cálculos e às representações no espaço são ativadas apenas no cérebro dos especialistas em matemática, que dão a resposta correta em 65% dos casos contra 37% para os leigos. Isso demonstra que o raciocínio matemático de alto nível envolve um conjunto de áreas do cérebro que exclui as zonas cerebrais do hemisfério esquerdo, responsáveis pelo tratamento da linguagem. Todas as áreas matemáticas testadas ativam uma rede bilateral que inclui o córtex pré-frontal, os sulcos intraparietais e as zonas temporais inferiores.
O interessante é que pesquisas anteriores já mostraram que estas zonas (não linguísticas) são ativadas quando efetuamos um cálculo aritmético simples. Para Amalric, os resultados indicam que a reflexão matemática de alto nível recicla as áreas do cérebro associadas a um conhecimento antigo dos números e do espaço. Isso também explica porque os conhecimentos básicos que temos enraizados desde a infância podem predizer o sucesso matemático.
Fonte : M. Amalric et S. Dehaene, Origins of the brain networks for advanced mathematics in expert mathematicians, PNAS, 11-04-2016.
Tradução: Yann Walter