Especial Semana do Cérebro: A pobreza e o desempenho cognitivo

Todo ano no mês de março, instituições ao redor do mundo unem esforços para celebrar o cérebro durante uma semana, chamada de Semana da Consciência do Cérebro (ou Brain Awareness Week). Trata-se de uma iniciativa da Dana Foundation, da qual o Cérebro Melhor é parceiro, para aumentar a consciência da população sobre o progresso e benefícios da pesquisa sobre o cérebro. Para contribuir com essa mobilização global, escolhemos um assunto bastante pertinente para o Brasil, um país ainda famoso pela desigualdade social e altos níveis de pobreza, apesar dos avanços obtidos na última década.

A sabedoria popular diz que os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres. E, nesses últimos anos, neurocientistas e economistas que pesquisam a relação entre a pobreza e o desempenho cognitivo têm encontrado algum fundamento para essa afirmação, bem como alguns fatores tratáveis que podem ajudar a romper com esse círculo vicioso.

O desenvolvimento do cérebro humano é determinado basicamente por dois fatores: a genética herdada dos pais e o ambiente no qual a pessoa é criada, desde a gestação até a vida adulta. O nível socioeconômico de uma família influencia diretamente o ambiente onde a pessoa é criada e, consequentemente, afeta a cognição, o desempenho escolar e a saúde mental.

Pesquisas sobre o nível socioeconômico identificaram alguns pontos que ajudam a explicar o seu efeito sobre o desenvolvimento do cérebro, os quais estão listados abaixo:

  • Cuidados dos pais: a qualidade dos cuidados prestados pelos pais tem demonstrado um efeito principalmente sobre o desenvolvimento emocional da criança.
  • Estímulo cognitivo: devido à plasticidade do cérebro, uma criança que cresce num ambiente onde recebe mais estímulos cognitivos, como jogos, livros, entre outros, consequentemente acaba tendo um melhor desenvolvimento cognitivo.
  • Nutrição: a ingestão de nutrientes e calorias influenciam os mecanismos relacionados à cognição e emoção. Famílias de baixa renda tem menos acesso a comidas saudáveis e possuem um risco maior de falta de comida e deficiência nutricional.
  • Exposição a toxinas: devido às condições mais precárias de moradia das famílias de baixa renda, é maior o risco de exposição a toxinas que afetam o desempenho cerebral, como acontece com o chumbo.
  • Estresse: famílias de baixa renda estão geralmente expostas a ambientes com níveis de estresse mais elevados, provenientes do estilo de vida, vizinhança mais perigosa, barulhos, entre outros fatores. Isto pode levar ao estresse crônico e afetar o desenvolvimento cognitivo de toda a família.

O efeito do estresse sobre o desenvolvimento cerebral tem sido muito pesquisado ultimamente e os seus efeitos sobre regiões específicas do cérebro estão cada vez mais claros. O córtex pré-frontal, mais relacionado a funções executivas, e a amídala, relacionada ao controle emocional, são bastante afetados pelo estresse. As regiões pré-frontais que normalmente regulam a amídala são enfraquecidas pelo estresse, permitindo que o cérebro fique mais sensível ao estímulo emocional. O cérebro essencialmente sai do modo lento, mais pensativo, para o modo rápido, mais impulsivo e instintivo. Felizmente, se o estresse encerra, a habilidade cognitiva poderá retornar ao normal.

Porém, um estresse de longo prazo durante a infância, quando as regiões pré-frontais ainda estão se desenvolvendo, podem deixar importantes funções cognitivas, como o controle do impulso, a capacidade atencional, e a memória de trabalho permanentemente debilitadas. Um estudo recente, com um grupo de pessoas com 24 anos de idade que viveram a infância na pobreza e sob estresse de longo prazo, identificou que elas possuíam na média uma menor habilidade de regular a amídala. Ao comparar essa deficiência com a renda atual dessas pessoas, os pesquisadores não encontraram relação, sugerindo que ela foi causada na infância.

Outra linha de pesquisa tem explicado os efeitos do estresse sobre a habilidade cognitiva através da teoria de que a capacidade cognitiva de uma pessoa é limitada e que pode ser consumida com o uso, pelo menos temporariamente. Em experimentos, pessoas que são forçadas a exercer o auto-controle, um aspecto chave para a tomada de decisão no dia-a-dia, mostram evidências de redução do mesmo em tarefas posteriores. Alguns pesquisadores argumentam que a pobreza, devido à preocupação causada pelo estresse, é um estado que consome tanta capacidade cognitiva que pode exaurir o auto-controle rapidamente.

Essas descobertas oferecem uma oportunidade única para entender como os fatores ambientais podem levar a diferenças no desenvolvimento cerebral dos indivíduos. Também podem servir para melhorar programas sociais e diretrizes governamentais, no sentido de aliviar as disparidades causadas pelo nível socioeconômico na saúde mental e desempenho escolar ou profissional.

Fonte:

Hackman, Farah e Meaney, Socioeconomic status and the brain: mechanistic insights from human and animal researchNature Reviews Neuroscience, 11 (Set 2010), 651-659

Kim e outros, Effects of childhood poverty and chronic stress on emotion regulatory brain function in adulthoodProceedings of the National Academy of Sciences of the USA, Nov 2013, 110(46):18442-7

Leia sempre para manter o cérebro em forma

leia-cerebro-formaAs pessoas geralmente vão à academia para fortalecer os músculos e ganhar resistência, garantindo assim o bom desempenho do corpo. Essa dedicação traz enormes benefícios, já que se manter em forma significa evitar uma série de doenças que aparecem com a idade. Mas será que o cérebro funciona da mesma maneira? Isto é, será que fazer exercícios mentais ajuda a manter o cérebro afiado? Os cientistas dizem que sim.

Um estudo publicado há pouco tempo sugere que ler livros, escrever textos e realizar outras atividades similares que estimulam o cérebro reduzem a perda cognitiva numa idade avançada, independente da presença de doenças neurodegenerativas. Em particular, pessoas que sempre participaram de atividades mentalmente estimulantes, desde a infância até a velhice, apresentaram uma perda muito menor de memória e outras habilidades mentais do que as demais pessoas.

Os pesquisadores aplicaram uma bateria de testes para medir o desempenho mental de 294 pessoas, todo ano durante seis anos. Os participantes também responderam um questionário sobre seus hábitos de leitura e escrita, da infância à velhice. Após a morte dos participantes com uma idade média de 89 anos, os pesquisadores examinaram seus cérebros procurando evidências de sinais físicos de demência, como lesões, placas e emaranhados.

Cruzando as informações do desempenho mental, do questionário e da autópsia, os pesquisadores descobriram que qualquer leitura e escrita é melhor do que nenhuma. Também descobriram que a maior frequência de atividade mental ao longo da vida estava associada a um menor declínio cognitivo na velhice, independente da presença de sinais de demência.

A demência afeta uma quantidade enorme de pessoas e, até o momento, não existe tratamento capaz de combater essa condição, o que aumenta a importância de se adotar estilos de vida que reduzem o risco de ela se manifestar. Como foi sugerido pela pesquisa, um dos estilos de vida que retarda o aparecimento da demência é a prática da leitura e da escrita. A leitura é um exercício para o cérebro porque a compreensão de texto requer mais energia mental do que, por exemplo, processar a imagem da tela de televisão.

Esses resultados são consistentes com a hipótese da reserva cognitiva, que defende que a prática frequente de atividades que desafiam o cérebro cria um estoque de conexões neuronais que tornam o cérebro mais resistente aos danos decorrentes do envelhecimento, ou de doenças.

Então, já decidiu o que fazer? Vai assistir televisão ou exercitar seu cérebro? Escolha já um dos livros indicados ou acesse o seu programa de treinamento para desenvolver sua reserva cognitiva e manter seu cérebro em forma!

Fonte:

Wilson e outros, Life-span cognitive activity, neuropathologic burden, and cognitive agingNeurology, 2013, n.81, pp.308-309

Mais força de vontade para atingir seus objetivos

Muitas pessoas aproveitam o início do ano para traçar seus objetivos, como passar no vestibular, conquistar uma promoção no trabalho, ou alcançar um estilo de vida saudável. Mas com o passar das semanas, notam que estes objetivos vão ficando cada vez mais distantes…

Uma característica importante de pessoas que atingem seus objetivos é a força de vontade, também conhecida como controle de impulsos. Por sorte, evidências científicas sugerem que a força de vontade pode ser treinada através de desafios para a memória de trabalho, similares aos disponíveis no Supera Online.

Um estudo utilizou exercícios de memória de trabalho para gerar mudanças positivas em pessoas com problema de bebida. Os participantes, todos com dificuldade de controlar o impulso por álcool, fizeram 25 sessões diárias de exercícios para a memória de trabalho. Divididos em dois grupos, um grupo era realmente desafiado nesses exercícios, enquanto o outro só ficava nos níveis mais fáceis.

O grupo que era desafiado conseguiu melhorar sua capacidade de memória de trabalho e, principalmente, passou a beber menos que o grupo dos exercícios fáceis. E, mesmo após um mês, os efeitos ainda estavam presentes.

Esse efeito já foi comentado no artigo “Treinamento cerebral para superar as drogas”, onde pesquisadores utilizaram o treinamento da memória de trabalho como ferramenta para o tratamento de viciados em drogas e a prevenção de vícios em geral.

Já no artigo “Treinando o lado emocional do cérebro”, o treinamento da memória de trabalho foi utilizado para fortalecer o controle emocional. Trata-se da habilidade de se regular as emoções ou de direcioná-las para atingir um objetivo, e é o ponto fraco de muita gente, especialmente aqueles que sofrem com transtornos de ansiedade, alimentação ou personalidade.

A ciência está demonstrando que o treinamento cognitivo realmente desafiador pode ajudar as pessoas a controlarem seus impulsos e influenciar importantes escolhas de vida. É por isso que o Supera Online oferece um programa de exercícios para treinar suas habilidades cognitivas, com níveis de dificuldade progressivos para que você seja desafiado na medida certa e consiga extrair o máximo dos benefícios do treinamento.

Fonte:
Houben, Wiers e Jansen. Getting a grip on drinking behavior – training working memory to reduce alcohol abuse. Psychological Science, Julho 2011, vol. 22, n. 7, pp. 968-975

Por que você abaixa o volume do rádio quando está perdido?

É noite e você está dirigindo num bairro desconhecido tentando encontrar a rua da casa que você alugou para as férias. Você diminui a velocidade, abaixa o volume do rádio, para de falar com seus passageiros, e olha todas as placas ao seu redor. Mas por que abaixar o volume do rádio ou parar de falar se isso não afeta sua visão? Ou será que afeta?

Pesquisadores descobriram que nossa atenção é extremamente limitada. Se ela estiver direcionada a processar a audição, ela efetivamente reduz a capacidade do cérebro de processar a visão. Isso significa que quando falamos ao celular enquanto dirigimos, mesmo que pelo viva-voz, alguma outra capacidade necessária para guiar acaba sendo prejudicada.

Esse exemplo trata da chamada “atenção dividida”, ou a capacidade de prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo, a famosa multitarefa. Desenvolver esse tipo de atenção é geralmente muito mais difícil do que desenvolver a “atenção concentrada”, que é aquela que lhe permite se focar em uma coisa e filtrar as distrações.

A atenção dividida, assim como os outros tipos de atenção, é afetada por uma série de fatores, sendo um dos principais a fadiga. Quanto se está cansado, é muito mais difícil se concentrar. A depressão também tem um efeito similar. Na verdade, muitas reclamações de memória podem ser relacionadas à perda de capacidade atencional devido à fadiga ou depressão.

Saiba também que a idade reduz a capacidade atencional e, consequentemente, requer um maior processamento cerebral para inibir as distrações e se manter concentrado. Mas nem tudo está perdido… Veja a seguir algumas dicas de como melhorar a capacidade de fazer múltiplas tarefas ao mesmo tempo:

  • Escolha tarefas bastante diferentes. É muito mais difícil executar ao mesmo tempo duas tarefas muito similares, como ler e conversar, do que tarefas muito distintas, como caminhar e conversar. Sempre ajuda quando você puder utilizar regiões diferentes do cérebro.
  • Pratique bastante. Quanto melhor for seu desempenho em cada tarefa independentemente, melhor será ao executá-las ao mesmo tempo, mesmo que haja uma perda de desempenho ao executá-las ao mesmo tempo.
  • Mantenha simples. Se você tiver que ser multitarefa, você terá mais sucesso se executar simultaneamente tarefas simples, ao invés de tentar resolver mentalmente uma equação de segundo grau enquanto escreve um romance.
  • Treine o seu cérebro. A atenção pode ser aperfeiçoada pelo treinamento da atenção e da memória de trabalho, o que pode ajudar pessoas com déficits de atenção (como TDAH) e melhorar o raciocínio no geral.

Então, você não está ficando maluco se abaixar o volume do rádio quando está perdido. Você simplesmente está ajudando o seu cérebro a focar na sua missão, que é encontrar o endereço!

O mito da divisão entre o lado esquerdo e direito do cérebro

Você acredita que a humanidade é dividida em dois grandes grupos: os que usam mais o lado esquerdo do cérebro e os que usam mais o direito? Se sim, você não está sozinho.

Durante anos, a indústria dos livros, testes e vídeos difundiu este conceito de que as pessoas mais lógicas e analíticas utilizam mais o lado esquerdo do cérebro, enquanto aquelas que são mais intuitivas e criativas utilizam mais o lado direito. Hoje até parece ser uma lei natural. Mas não é.

Os cientistas já sabem há muito tempo que a popular estória dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro não se sustenta. Em primeiro lugar, a caracterização generalizada de que um lado é lógico e o outro intuitivo, ou que um é analítico e o outro criativo, não retrata bem a realidade. Os dois hemisférios até possuem algumas diferenças de funcionamento, mas são muito mais sutis do que imaginamos. Por exemplo, quando vemos uma imagem, o lado esquerdo processa pequenos detalhes do que vemos, enquanto o direito processa o formato geral.

Em segundo lugar, os hemisférios do cérebro não trabalham isoladamente, mas juntos num único sistema. Nossa cabeça não é um campo de batalha em que os lados competem para ver quem é o mais forte. E, finalmente, as pessoas não utilizam preferencialmente um lado ou o outro.

As origens dessa estória de lado esquerdo/direito residem numa série de operações nos anos 60 e 70 por uma equipe de médicos americanos. Procurando tratamento para epilepsia, 16 pacientes concordaram com que os médicos retirassem uma parte do cérebro localizada entre os hemisférios do cérebro. Os pacientes encontraram algum alívio após a operação e, quando deixaram o hospital, permitiram com que os médicos estudassem o seu funcionamento cognitivo.

As pesquisas médicas nem sempre chegam a fazer parte da cultura popular, mas essa sim, e ofereceu uma infeliz oportunidade para a má interpretação do que era, na essência, uma experiência com dados limitados. Nos anos 70, algumas revistas muito populares publicaram artigos afirmando, por exemplo, que “Duas pessoas muito diferentes habitam nossas cabeças… Uma é verbal, analítica, dominante. A outra é artística…”. Daí o mito se espalhou.

Mitos sempre foram uma maneira de se tentar explicar uma experiência e, nessa busca por sentido, pessoas acabam criando generalizações. Apesar de parecer uma estratégia razoável, a explicação utilizando a teoria do lado direito/esquerdo acabou introduzindo alguns conceitos distorcidos.

Estudos sobre a lateralização do cérebro, que analisam as diferenças entre os hemisférios, não sustentam a teoria do lado direito/esquerdo, uma vez que ambos os hemisférios contribuem para os processos de lógica e criatividade. Apesar disso, atualmente a neurociência já sabe que o cérebro possui uma especialização por região, fazendo com que certas regiões do cérebro se especializem em processar algumas funções, mas essas regiões não são tão amplas quanto os hemisférios.

Com o avanço das pesquisas, os cientistas vão fazendo novas descobertassobre o cérebro, algumas até inusitadas, e melhorando nosso conhecimento sobre esse que é o principal órgão do nosso corpo. Resta-nos acompanhar essas descobertas e saber aplicá-las para cuidarmos cada vez melhor do nosso cérebro.

Como o açúcar afeta o cérebro

A maioria das pessoas sabe que uma alta ingestão de açúcar pode afetar o corpo, causando vários problemas, entre eles a diabete e aobesidade. Mas o que acontece com o cérebro? Um estudo demonstrou justamente o efeito negativo que uma dieta de longo prazo rica em açúcar tem sobre o cérebro, ilustrando que o que comemos também afeta como pensamos.

O estudo foi feito em camundongos utilizando a frutose do milho, um açúcar muito comum em comidas calóricas industrializadas como refrigerantes e doces, mas também em papinha de nenê. Foi identificado que essa dieta rica em frutose desacelera o cérebro, afetando a memória e o aprendizado, já num prazo de 6 semanas. Mas os pesquisadores também descobriram uma forma de reduzir esse efeito com ômega-3.

Precisamos lembrar que a frutose de milho é um açúcar industrializado, utilizado como adoçante e conservante em comidas e bebidas. É diferente da frutose presente naturalmente em frutas, que possui uma baixa concentração de açúcar e é fonte de importantes vitaminas e antioxidantes.

No estudo, antes de iniciar a dieta, os camundongos foram treinados a sair de um labirinto que possuía vários caminhos, mas somente uma saída. Depois, por um período de seis semanas, os camundongos receberam uma dieta rica em açúcar, mas um grupo também recebeu uma suplementação de ômega-3. Após esse período, os pesquisadores avaliaram novamente a capacidade dos camundongos de saírem do labirinto.

Os camundongos que receberam a suplementação de ômega-3 navegavam pelo labirinto muito mais rápido que os que não receberam a suplementação. Além de mais lentos, esses outros camundongos apresentavam cérebros com declínio de atividade, cujos neurônios tinham dificuldade de se comunicar, afetando a capacidade de pensar claramente e lembrar a rota que haviam aprendido seis semanas antes.

Esse estudo mais uma vez demonstra a influência da alimentação sobre o desempenho do cérebro, reforçando a necessidade de uma dieta de baixa caloria e rica em ômega-3, como já abordamos em artigos anteriores. Então, comece desde já a mudar os seus hábitos alimentares para que os efeitos do treinamento cerebral, como o proporcionado pelo Cérebro Melhor, seja potencializado e você tenha uma melhor qualidade de vida.
Fonte:

Agrawal e Gomez-Pinilla, ‘Metabolic syndrome’ in the brain: deficiency in omega-3 fatty acid exacerbates dysfunctions in insulin receptor signalling and cognition, The Journal of Physiology, May 2012, vol. 590, pp. 2485-2499.

Os benefícios da meditação

O cérebro humano é uma obra prima da natureza, de onde foi possível emergir a racionalidade da ciência, bem como a sutileza da arte. Pena que esse mesmo cérebro muitas vezes não consegue se controlar, atormentando seu dono com ansiedade inexplicável, tristeza suicida e vício em químicos destrutivos, cujos melhores esforços da psiquiatria e da psicoterapia conseguem aliviar com sucesso limitado.

Na última década, as pesquisas com meditação têm sugerido que essa prática milenar promove uma elevada consciência e controle sobre a atividade mental, permitindo ao indivíduo uma melhor regulação das suas emoções, sendo útil no tratamento de uma variedade de males da mente. A meditação também tem sido associada a mudanças no cérebro que elevam a capacidade de concentração e memorização, facilitando o aprendizado. E os resultados são relativamente rápidos, com alguns estudos demonstrando efeitos positivos já em um mês.

A meditação tem sido relatada por produzir efeitos positivos no bem-estar psicológico que se estendem além do período durante o qual o indivíduo está meditando. Há algum tempo, práticas de meditação têm sido incorporadas a programas psicoterapêuticos para tirar proveito desses benefícios. Um grande número de pesquisas já estabeleceu a eficácia dessas intervenções na redução dos sintomas de uma série de distúrbios, incluindo ansiedade, depressão, abuso de substâncias, distúrbios de alimentação, e dores crônicas, bem como na elevação do bem-estar e qualidade de vida.

Estudos de neuroimagem já começaram a explorar os mecanismos por trás da prática de meditação com técnicas como EEG (eletro encefalograma) e fRMI (imagem por ressonância magnética funcional). Recentemente, vários estudos anatômicos de ressonância magnética demonstraram que meditadores experientes exibem uma quantidade diferente de substância branca em diversas regiões do cérebro quando comparados a indivíduos que não meditam. Isso tem demonstrado que os sistemas neurais são modificáveis e que mudanças na estrutura cerebral podem ocorrer em adultos como resultado de treinamento, um efeito conhecido como neuroplasticidade.

Recentemente, um desses estudos demonstrou que apenas 11 horas de meditação, ou quase um mês de treinamento, já são suficientes para a expansão da bainha de mielina, um tecido protetivo que encobre os nervos, melhorando as conexões cerebrais. Esse efeito foi identificado numa região do cérebro cujo déficit de ativação tem sido associado ao distúrbio de déficit de atenção, à demência, à depressão, à esquizofrenia, entre outros males.

Já os efeitos positivos da meditação na dor e na memória de trabalho pode ser resultado da melhora na habilidade de se regular uma onda cerebral crucial chamada de ritmo alfa. Esse ritmo é conhecido por “baixar o volume” de distrações, que sugere que a meditação pode ajudar o cérebro a lidar com um mundo cheio de estímulos.

A meditação é mais fácil do que você imagina e por isso o Supera Online a recomenda como sendo um hábito saudável para a saúde do cérebro e qualidade de vida. Outros hábitos que recomendamos são: o estímulo mental, a atividade física, a alimentação balanceada, a socialização, o controle do estresse e o sono adequado.

Fonte:

Yi-Yuan Tang e outros, Mechanisms of white matter changes induced by meditationPNAS 2012, 109 (26) 10570-10574.

Catherine Kerr e outros, Effects of mindfulness meditation training on anticipatory alpha modulation in primary somatosensory cortexBrain Research Bulletin, Volume 85, Issues 3–4, 30 May 2011, Pages 96–103.

Treinamento cognitivo pode ajudar sobreviventes do câncer de mama

Estudos indicam que até um terço dos sobreviventes do câncer relatam dificuldades com concentração, memória e velocidade de raciocínio. Embora sutis, essas perdas de desempenho mental podem ter um impacto significativo na qualidade de vida dessas pessoas. Originalmente, acreditava-se que era um efeito colateral da quimioterapia, mas as causas reais ainda não são claras, pois pessoas que nunca passaram por quimioterapia também relatam tais perdas cognitivas.

Independentemente da causa, essa mudança cognitiva associada ao cânceré um efeito inesperado, angustiante e prolongado, podendo durar de poucas semanas até vários anos, dependendo do indivíduo. Mas um estudo recente com sobreviventes do câncer de mama traz resultados promissores para o uso de treinamento cognitivo para melhorar os sintomas e, consequentemente, a qualidade de vida.

O propósito do estudo era fazer uma avaliação preliminar da eficácia, bem como da satisfação e aceitabilidade, de um treinamento de memória e velocidade de processamento. A eficácia do treinamento foi avaliada através do desempenho em testes neuropsicológicos objetivos de memória e velocidade de processamento. Também foi avaliado a percepção do desempenho cognitivo, o incômodo com os sintomas, a qualidade de vida, e a satisfação.

Um total de 82 participantes foi dividido em 3 grupos: um fez um treinamento de memória, outro o de velocidade de processamento, e um outro serviu de grupo de controle (não participou de treinamento). O treinamento levou entre 6 a 8 semanas, onde os participantes realizaram 10 sessões de treinamento com 1 hora de duração. Todos foram avaliados antes do treinamento, logo após o treinamento e também 2 meses após o treinamento.

Os resultados indicaram que os dois tipos de treinamento melhoraram o desempenho dos participantes na função em que foram treinados, ou seja, quem treinou a memória, melhorou a memória, e quem treinou velocidade de processamento, melhorou a velocidade de processamento. Até aí não há muita novidade, pois é basicamente o efeito da plasticidade do cérebro. Mas também verificou-se que quem treinou velocidade de processamento também teve uma melhora de desempenho na memória.

Os dois treinamentos também foram associados à melhoras na percepção do desempenho cognitivo, no incômodo com os sintomas e na qualidade de vida. Notas de satisfação e aceitabilidade também foram altas nos dois treinamentos.

A conclusão foi de que os dois treinamentos são promissores, pois resultaram em efeitos imediatos e duradouros. As descobertas desse estudo culminarão num outro estudo em larga escala para identificar um tratamento efetivo para o comprometimento cognitivo em sobreviventes de câncer de mama.

Enquanto esse novo estudo não é concluído e publicado, o programa de treinamento cognitivo oferecido pelo Cérebro Melhor pode ser um ótimo aliado para melhorar o desempenho cognitivo nas mais variadas funções: memória, atenção, raciocínio lógico, linguagem e visão espacial.Experimente!

Fonte:

Diane Von Ah e outros, Advanced cognitive training for breast cancer survivors: a randomized controlled trialBreast Cancer Research and Treatment, October 2012, Volume 135, Issue 3, pp. 799-809.

Seja o arquiteto do próprio cérebro

Durante milênios, não fazíamos ideia de que nossos cérebros estavam mudando em resposta às nossas ações e atitudes, todos os dias das nossas vidas. Então, nós moldávamos nossos cérebros de maneira inconsciente e aleatória, porque acreditávamos que tínhamos um cérebro imutável que estava à mercê dos nossos genes. Não podíamos estar mais distante da verdade…

O cérebro humano está continuamente alterando sua estrutura, quantidade de neurônios, circuitos e química como resultado direto de tudo que fazemos, experimentamos, pensamos e acreditamos. Isso é chamado de “neuroplasticidade”, proveniente das palavras neurônio, a célula do nosso cérebro, e plasticidade, a capacidade de se moldar. E suas implicações são enormes: temos a habilidade de manter nossos cérebros afiados, efetivos e capazes de aprender coisas novas além dos 90 anos, se nós protegermos nossos cérebros de hábitos danosos e oferecermos estimulação contínua e combustível apropriado. Veja a seguir nossas recomendações de como fazer isso.

1. Não danifique seu cérebro. Além dos danos óbvios causados por quedas ou pelo consumo de drogas ilegais, coisas que danificam o cérebro e reduzem nossas habilidades cognitivas incluem fumar, estresse, privação do sono, refrigerantes, sedentarismo, álcool em excesso, comidas não saudáveis, pressão alta, colesterol alto, obesidade, solidão, pessimismo e pensamentos negativos.

2. Coloque seu cérebro em ambiente estimulante. As funções cerebrais melhoram em todos os aspectos quando nos encontramos em ambientes que são mentalmente, fisicamente e socialmente estimulantes. Aventura previne demência!

3. Alimente-se com o melhor. Nossas escolhas alimentares afetam não apenas a saúde dos nossos corpos, mas também a do cérebro. Nosso cérebro consome 20% de todos os nutrientes e energia que ingerimos, então o que comemos tem um impacto significativo nos neurotransmissores, atenção, humor e funcionamento cognitivo.

4. Mantenha-se leve. Obesidade é um grande fator de risco para a demência.

5. Mexa-se. Se não fizermos exercícios físicos, nosso cérebro gasta tanta energia quanto nossos músculos. O exercício físico, seja ele de força ou aeróbico, tem efeito positivo no desempenho cerebral e, mais importante, induz o crescimento de novos neurônios.

6. Continue aprendendo. Ter uma boa educação e continuar aprendendo ao longo da vida ajuda a proteger da demência e contribui para desenvolver “reserva cognitiva”. Essa reserva age como um amortecedor contra o declínio mental quando envelhecemos.

7. Faça coisas diferentes. O tédio e a monotonia são venenos para o cérebro. Precisamos sair da zona de conforto, explorar o mundo, mudar nossas rotinas e nos desafiar continuamente.

8. Use-o ou perca-o. Isso se aplica a qualquer função do nosso cérebro e corpo. Para manter nossa capacidade de aprender novas habilidades, precisamos aprender novas habilidades regularmente. Para nos tornar criativos, temos que nos colocar tarefas que requerem criatividade. Da mesma forma, para termos uma boa memória, precisamos fazer um esforço consciente para prestar atenção e exigir mais da nossa memória.

9. Treine e reconquiste. Nem tudo está perdido se perdermos uma função cerebral específica. A prática progressiva, persistente e orientada a objetivos pode nos ajudar a reconquistar a função perdida.

10. Recarregue a bateria. Aquietar a mente é tão importante quanto estimular a mente. Obter o sono adequado e controlar os pensamentos desnecessários são essenciais para ter o melhor desempenho todos os dias, bem como preservar as funções cerebrais quando envelhecemos.

11. Interaja com outros. A interação social ao longo da vida e fazer conexões significativas com outros é vital para um cérebro saudável.

12. Tenha objetivos. O cérebro é alimentado por objetivos a serem alcançados e por aspirações a direcionar nossos esforços. Quanto mais claros formos sobre para onde queremos ir e o que queremos alcançar, mais efetivo será o cérebro em realizar as tarefas necessárias.

13. Mantenha-se positivo. Uma vez decidido o que queremos, precisamos direcionar nossos pensamentos para suportar os objetivos. Nosso diálogo interno é um fluxo constante de instruções para nosso subconsciente. Pensamentos positivos, focados na solução, ativa a atividade cerebral, enquanto os pensamentos negativos, desanimadores, a diminuem.

14. Pratique à perfeição. Quando praticamos uma habilidade em nossa imaginação, os mesmos neurônios são disparados, como se estivéssemos executando a habilidade na vida real. Se nos visualizarmos mentalmente executando a tarefa com perfeição, nós ficamos melhor na vida real, porque cada prática mental aumenta a eficiência das transmissões elétricas entre os neurônios envolvidos, turbinando nosso progresso.

15. Fique entusiasmado. A paixão, o entusiasmo e a animação são os mais poderosos combustíveis para o cérebro. Nada grandioso jamais foi alcançado sem entusiasmo!

Grandes descobertas da neurociência

O cérebro humano é um órgão extremamente complexo e, apesar de ser um objeto de estudos desde o Egito antigo, cientistas afirmam que na última década foi descoberto mais coisas sobre o cérebro do que em todas as décadas anteriores. Mesmo com esse grande avanço na ciência, ainda há muitos mistérios sobre o cérebro a serem desvendados, o que com certeza manterá os neurocientistas ocupados por muitas outras décadas.

Para entender essa evolução da neurociência, destacamos algumas das grandes descobertas dos últimos tempos. Por exemplo, você sabia que os neurônios só foram descobertos por volta de 1890? Que a doença de Alzheimer foi primeiro descrita em 1906? E que a região do cérebro responsável pela fala foi identificada por volta de 1860, porém a responsável pela memória só quase um século depois?

O neurônio

Por volta de 1870, um cientista chamado Goldi desenvolveu uma forma de tingir o cérebro que permitiu que fossem visto pela primeira vez os tecidos e células individuais do cérebro. Mas ainda não se sabia se o cérebro era composto de células nervosas individuais ou de um tipo de tecido contínuo. Após vários anos de pesquisa, ficou provado que a estrutura básica do sistema nervoso era composta de células individuais, as quais foram batizadas de “neurônios” em 1891.

O lugar da linguagem

O paciente só conseguia falar uma única sílaba e faleceu alguns dias depois que o cirurgião francês Paul Broca o conheceu por volta de 1860. Quando o cirurgião analisou o cérebro do paciente, encontrou uma lesão na superfície do lóbo frontal esquerdo. Tempos depois, Broca conheceu um segundo paciente com problemas de fala que, após a morte, tinha o mesmo tipo de lesão cerebral; assim como muitos e muitos pacientes depois dele. O cirurgião documentou esses casos e estabeleceu a conexão entre a fala e essa região do cérebro. Esse trabalho marcou a primeira vez que certas regiões do cérebro foram atribuídas a tarefas específicas, um preceito que serve de base para quase todos os trabalhos de neurociência atualmente.

A doença de Alzheimer

Na medida em que envelhecemos, aumentam os riscos de desenvolvermosdemência. Enquanto os cientistas ainda se esforçam para entender a demência, devemos aplaudir o trabalho de Alois Alzheimer, que em 1906 descreveu a doença que leva seu nome. O médico conheceu uma paciente num hospital alemão que estava sendo tratada por comportamento estranho, paranoia e problemas de memória. Ele entrevistou-a diversas vezes e depois estudou seu cérebro após a morte. Em 1906, ele fez uma apresentação descrevendo os sintomas desse tipo de demência e os ligou às placas e emaranhados que encontrou no cérebro da paciente. A descrição das características dessa doença pavimentou o caminho para os pesquisadores atualmente trabalhando na sua prevenção e tratamento.

Pistas sobre a memória

H.M. é um dos pacientes mais famosos de toda a neurociência e foi graças a ele que possuímos um entendimento de como a memória funciona no cérebro. O paciente H.M., assim chamado para manter sua privacidade, tinha um tipo severo de epilepsia e, em 1953, um cirurgião efetuou uma operação experimental para corrigir essa condição. A cirurgia, que removeu partes dos lóbos temporais do paciente, deixou H.M. com amnésia profunda; o jovem era incapaz de formar novas memórias ou de lembrar os nomes das pessoas que conhecia. Com a ajuda de uma psicóloga, foram aplicados vários testes de memória no paciente que resultaram em descobertas importantes.

Antes desse trabalho, cientistas achavam que as memórias eram distribuídas por todo o cérebro, mas o cirurgião e a psicóloga conseguiram ligar a amnésia de H.M. às partes do cérebro que foram removidas. Um dos testes também demonstrou como diferentes tipos de memória eram armazenados em diferentes partes do cérebro. Como H.M. podia aprender novas tarefas, cientistas concluíram que existia um sistema subconsciente de aprendizado motor que era distinto do sistema de memória declarativa, aquele que havia sido afetado pela cirurgia.

A plasticidade cerebral

Uma das mais recentes conquistas da neurociência é também uma das mais significativas, abrindo caminho para a próxima era da exploração cerebral. Durante séculos, cientistas achavam que o cérebro se tornava um objeto fixo, inalterável, após seu desenvolvimento inicial nos primeiros anos. Como se conseguíssemos moldar nosso cérebro somente até certa idade e depois, se acontecesse algo de errado, não haveria mais o que fazer. Mas nos últimos anos, pesquisadores descobriram o conceito daneuroplasticidade: evidências de que o nosso cérebro pode ser reconectado e ajustado em qualquer idade.

O conceito da neuroplasticidade tem implicações em educação e em tratamentos potenciais para distúrbios neurológicos. Um estudo intenso de um assunto, em qualquer idade, pode alterar a área do cérebro associada àquele assunto, como demonstrado no cérebro dos taxistas londrinosdurante o treinamento. E, também, um AVC não significa mais a perda irreversível da função cerebral, pois estudos recentes indicam que a estrutura do cérebro pode se ajustar para compensar uma função perdida.

Graças a essas descobertas, podemos hoje desfrutar de um programa de treinamento cerebral que utiliza exercícios cientificamente desenvolvidos para, através da neuroplasticidade, fortalecer as conexões dos neurônios nas regiões do cérebro responsáveis pela memória, linguagem, atenção, raciocínio lógico e visão espacial. Isso é o Cérebro Melhor. Experimente!