Por que é mais fácil criticar do que elogiar?

É fato que somos mais propensos a notar os erros do que os acertos das outras pessoas. O interessante, porém, é que esta tendência não se explica apenas por aspectos culturais. Uma equipe de neurobiologistas da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, localizou uma área do cérebro que influencia nossas capacidades de julgamento.

O estudo de Lawrence Ngo e seus colaboradores é o primeiro a utilizar ferramentas de pesquisas em neurociências para tentar explicar porque as pessoas consideram que ações induzindo consequências negativas são mais intencionais do que as que têm efeitos positivos. Na maioria das vezes, uma pessoa que vê um jovem ajudando um idoso a atravessar a rua pensa: “será que ele faz isso por interesse?”, e não: “que jovem mais simpático!”.

Para conduzir sua pesquisa, a equipe de neurobiologistas submeteu aos participantes o seguinte cenário, frequentemente utilizado em filosofia experimental: o vice-presidente de uma empresa se encontra com o presidente e diz: “Desenvolvemos um novo projeto que nos permitirá aumentar significativamente nossos benefícios, mas que também terá como consequência prejudicar o meio ambiente”. O presidente responde: “Não me importo em prejudicar o meio ambiente, estou interessado apenas nos lucros. Vamos seguir adiante com o novo projeto”. Os pesquisadores fizeram depois a seguinte pergunta: o presidente teve a intenção de prejudicar o meio ambiente? Para 82% dos participantes, a resposta foi sim.

Os cientistas substituíram então o verbo “prejudicar” pelo verbo “ajudar”. Apenas 23% consideraram a ação do presidente intencional. No entanto, nos dois casos, o presidente da empresa está indiferente às consequências do plano sobre o meio ambiente. Não existe qualquer motivo lógico para pensar que a ação ruim seja mais intencional do que a boa. É o ‘efeito Knobe’, assim chamado por causa do filósofo que elaborou este cenário: nossas atribuições de estados mentais são guiadas por considerações morais.

Para explicar este paradoxo, os cientistas utilizaram a técnica de IRM (Imagem por Ressonância Magnética) funcional para analisar a atividade do cérebro de 20 pessoas – 10 homens e 10 mulheres, com idade média de 24 anos – enquanto elas liam 40 cenários similares ao apresentado anteriormente. Os participantes foram orientados a dar uma nota de intencionalidade da ação numa escala de 1 (não intencional) a 8 (totalmente intencional). Os pesquisadores observaram que quando uma pessoa ouve a história e considera que as ações das pessoas envolvidas merecem críticas, sua amígdala – uma zona do cérebro ligada ao controle das emoções – é ativada. E quanto mais a pessoa é atingida emocionalmente pela história, mais a amígdala é solicitada. Ao contrário, quando as ações são consideradas positivas, a atividade da amígdala é muito menor.

De acordo com a equipe de cientistas, esta diferença se deve ao fato de que somos mais racionais quando julgamos uma ação positiva, considerando que ela é apenas o resultado de outras ações interessadas (no cenário com o presidente de empresa, ajudar o meio ambiente é considerado um efeito colateral involuntário). Isso explica porque somos mais propensos a criticar as pessoas por suas ações.

Fonte : Ngo, L. et al. Two Distinct Moral Mechanisms for Ascribing and Denying Intentionality. Scientific Reports 5, dec. 2015.

Traduzido por Yann Walter 

Mexer-se ajuda a memorizar melhor

Todos sabem que o esporte é bom para a saúde física. A novidade é que a ciência vem avaliando de forma cada vez mais objetiva os efeitos da atividade física no desenvolvimento cognitivo. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Boston conseguiu recentemente estabelecer um vínculo entre boa forma física e memória, sobretudo em pessoas idosas.

O cientista Scott Hayes e sua equipe compararam um grupo de 29 adultos entre 18 e 31 anos com outro grupo de 31 pessoas, com idades de 55 a 82 anos. A intensidade e a duração da atividade física – nesse caso, a caminhada – realizada por cada participante foi avaliada por meio de um acelerômetro. Também foram conduzidos testes neuropsicológicos para avaliar as funções executivas, como a capacidade de organização e a resolução de problemas. Os participantes ainda tiveram a memória avaliada através de um exercício de associação de rostos e nomes.

De um modo geral, os adultos mais jovens obtiveram melhores resultados, tanto nos testes das funções executivas quanto no exercício de memória. Porém, os integrantes do segundo grupo que tiveram uma atividade física mais importante obtiveram melhores resultados que os demais na avaliação da memória. De fato, a experiência permitiu comprovar a existência de um vínculo direto entre a intensidade da caminhada e a capacidade de associar os nomes aos rostos. Ao contrário, o estudo não permitiu demonstrar qualquer relação entre a caminhada e as funções executivas. Aliás, não foi estabelecido um vínculo entre a atividade física e o desempenho cognitivo no grupo dos jovens adultos.

De acordo com Scott Hayes, o estudo é útil porque motiva as pessoas, particularmente as mais idosas, a se exercitarem mais. Já sabemos que a falta de atividade física pode favorecer a obesidade e as doenças cardiovasculares. Agora, a nova pesquisa permite acrescentar que a inatividade pode ter efeitos nefastos no desenvolvimento cognitivo da memória.

 

Conteúdo do Site SUPERA Online

Traduzido por Yann Walter

Fontes da matéria do Happy Neuron: Hayes, S.M., Alosco, M.L., Hayes, J.P., Cadden, M., Peterson, K., Allsup, K., Forman, D.E., Sperling, R.A., & Verfaellie, M. Physical activity is positively associated with episodic memory in aging. Journal of the International Neuropsychological Society, Nov.2015.

Posição durante o sono favorece limpeza do cérebro

Estudos conduzidos em 2012 e 2013 demonstraram a existência de um sistema específico de limpeza do cérebro que funciona melhor durante o sono. Usando esses estudos como base, pesquisadores buscaram determinar qual é a posição corporal ideal para favorecer o sistema de eliminação de resíduos cerebrais.

As pesquisas iniciadas em 2012 por uma equipe de cientistas da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, permitiram descobrir o sistema glinfático, responsável pela limpeza do cérebro. Os resíduos produzidos pelos neurônios são levados para o líquido cefalorraquidiano e eliminados através do sistema venoso. Este tratamento dos resíduos é indispensável para o bom funcionamento do cérebro. Os pesquisadores também descobriram que o sistema glinfático é muito mais ativo durante o sono.

Os novos estudos realizados, publicados no Journal of Neuroscience, revelaram que a posição do corpo durante o sono pode afetar a eficiência do processo de limpeza cerebral.

Os cientistas conduziram uma experiência com três grupos de ratos, que foram anestesiados e colocados para dormir em posição dorsal, lateral e em decúbito ventral (de bruços). Foi utilizada a técnica de ressonância magnética (IRM) para examinar os cérebros dos ratos, com foco em quatro áreas específicas: o hipocampo (memorização), o cerebelo (controle dos movimentos), o mesencéfalo (visão e audição) e o córtex órbito-frontal (decisões).

Os resultados foram claros: em todas as áreas, a limpeza mais eficiente foi observada nos ratos que dormiram em posição lateral.

Ainda é cedo, porém, para confirmar que as conclusões destas pesquisas são aplicáveis aos humanos. “As inconsciências de um rato anestesiado e de um rato que está dormindo são um pouco diferentes. Além disso, sabemos que a maioria das pessoas mudam várias vezes de posição enquanto dormem, o que também pode afetar o processo de limpeza dos resíduos cerebrais”, disse Helene Beneviste, da Universidade Stony Brook.

Fonte : H. Lee, L. Xie, M. Yu, H. Kang, T. Feng, R. Deane, J. Logan, M. Nedergaard, H. Benveniste, The effect of body posture on brain glymphatic transport, in Journal of Neuroscience, août 2015

 

Traduzido por Yann Walter

Por que acordamos de madrugada para comer?

Da próxima vez que você for flagrado por sua mulher – ou seu marido – esvaziando a geladeira no meio da noite, poderá responder: “não posso fazer nada, é culpa do meu cérebro”. De fato, segundo um estudo recente, a sensação de plenitude frente à comida seria menor durante a noite do que durante o dia, o que nos levaria a comer mais. Mas como nosso cérebro nos leva a acordar de madrugada para comer?

De acordo com estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Brigham Young cujos resultados foram publicados em março deste ano pela revista científica Brain Imaging and Behaviour, a atividade cerebral muda segundo a hora do dia, ao menos entre as mulheres. Os pesquisadores Travis D. Masterson, C. Brock Kirwan, Lance E. Davidson e James D. Le Cheminant usaram a ressonância magnética para estudar a atividade de algumas áreas do cérebro de 15 mulheres, a quem mostraram 360 fotos de alimentos com poucas calorias (legumes, frutas, peixe, cereais) e com muitas calorias (doces, bolos, hambúrgueres). Dois testes foram realizados, com uma semana de intervalo entre cada um. O primeiro aconteceu entre 6h30 e 8h30, e o segundo entre 17h e 19h.

De forma subjetiva, as participantes não disseram ficar com mais ou menos fome segundo a hora do dia, mas comentaram que pensam mais em comida no início da noite do que na parte da manhã. Os estudos de IRM (Imagem por Ressonância Magnética) permitiram explicar essa impressão. Primeiramente, foi constatado que a reatividade dos neurônios aos estímulos visuais alimentares é mais intensa com os alimentos mais calóricos. Em segundo lugar, esta atividade neuronal é menor em algumas áreas do cérebro durante a noite do que durante a manhã, principalmente no caso dos alimentos com maior teor em calorias. Como as imagens de alimentos provocaram nessas mulheres uma sensação de plenitude menor durante a noite do que durante o dia, os autores do estudo concluíram que elas têm mais vontade de comer durante a noite.

Claro que este é apenas um estudo preliminar, e que outras pesquisas são necessárias para estabelecer uma ligação entre nossas reações cerebrais e nossos costumes alimentares. No entanto, o mistério de nossas escapadas noturnas à cozinha pode ser esclarecido em breve!

Fonte : http://link.springer.com/article/10.1007/s11682-015-9366-8

Tradução: Yann Walter

Quando a ficção científica se torna realidade

Imagine o seguinte cenário: duas pessoas, instaladas em dois quartos diferentes, têm de trabalhar juntas para prevenir a destruição de uma cidade por dezenas de mísseis, sendo que o único meio de comunicação entre elas é uma interface cérebro-cérebro. Difícil, não é? Pois uma equipe de pesquisadores da Universidade de Washington comprovou que é possível.

A interface cérebro-cérebro (BBI, na sigla em inglês) combina a eletroencefalografia (EEG), para registrar os sinais emitidos pelo cérebro, com a estimulação magnética transcraniana (TMS), para liberar a informação para outro cérebro. Para ilustrar seu método, os cientistas recorreram a uma atividade visomotora, com duas pessoas jogando juntas e comunicando entre elas por meio de uma interface. O objetivo do jogo era defender uma cidade de dezenas de mísseis disparados por um navio pirata. Três duplas diferentes, formadas por pessoas de 21 a 38 anos, participaram da experiência, que teve duração de três meses.

Nos três casos, a interface cérebro-cérebro detectou a imagem motora nos sinais emitidos pelo cérebro da primeira pessoa e transferiu esta informação para a área do córtex motor da segunda pessoa, permitindo à primeira ‘provocar’ a resposta da segunda. Ou seja, os resultados mostraram que informações extraídas de um cérebro graças à EEG podem ser transmitidas a outro cérebro por meio da TMS.

Com os resultados do estudo em mãos, os pesquisadores destacaram três grandes fatos: 1. A tecnologia atual permite desenvolver ferramentas para transmitir, ainda que de forma rudimentar, informações de um cérebro humano para outro cérebro humano; 2. As tecnologias não invasivas têm maior potencial de aplicabilidade que os dispositivos invasivos e poderiam ser utilizadas para desenvolver as interfaces cérebro-cérebro; e 3. É urgente acelerar o debate sobre os aspectos éticos e morais relacionados às BBI, cujas capacidades poderão no futuro ir muito além de uma simples transmissão de informações.

Fonte : Rao RPN, Stocco A, Bryan M, Sarma D, Youngquist TM, Wu J, et al. (2014) A Direct Brain-to-Brain Interface in Humans. PLoS ONE 9(11): e111332. doi:10.1371/journal.pone.0111332

Tradução: Yann Walter

Estudo comprova benefícios de jogos online

estudo-comprova-beneficios-de-jogos-online.....A prática de jogos online pode proporcionar muito mais que apenas diversão e pode melhorar a qualidade de vida de pessoas com mais de 50 anos. É o que mostra o estudo divulgado esta semana pela King’s College, em Londres.

Durante seis meses, os 7 mil voluntários para a pesquisa passaram 10 minutos, pelo menos cinco vezes por semana, praticando exercícios mentais online que envolviam resolução de problemas matemáticos e jogos de memória.

Depois desta experiência, foram registradas melhoras significativas nas habilidades cognitivas. As pessoas perceberam avanços no raciocínio, aprendizagem verbal e tiveram mais facilidade para executar tarefas do dia-a-dia.

Segundo Anne Corbett, do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King’s College de Londres, o impacto de um treino como este no cérebro humano é extremamente significativo.

Parte da pesquisa foi financiada pela Associação Britânica de Alzheimer. Além de estimular as habilidades, estes exercícios também podem prevenir do aparecimento dos sintomas desta temida doença.

 

Como funcionam os exercícios para o cérebro

Graças à neuroplasticidade – capacidade do cérebro em se modificar e criar novas conexões neurais -, a prática de jogos estimulantes para o cérebro mantém suas funções, sem os efeitos colaterais dos remédios.

De acordo com especialistas em ginástica cerebral do SUPERA, os benefícios dos exercícios para o cérebro podem ser comparados aos das atividades físicas. Quanto mais você exercita o corpo, mais saudável e mais forte ele fica.  O cérebro, quanto mais estímulos recebe, mais ativo e ágil ele se torna.

A ginástica cerebral tem benefícios para todas as idades: as crianças aprendem com mais facilidade, os adultos melhoram principalmente raciocínio e criatividade, e a terceira idade mantém a memória boa, treina a coordenação motora e se socializa.

Para driblar os efeitos do tempo, além de fazer praticar jogos online, é importante adotar alguns cuidados com a alimentação, fazer exercícios físicos, viajar e procurar novidades. O segredo é sair da rotina.

Uma das ferramentas do SUPERA é a plataforma de jogos online, com exercícios desenvolvidos por neurocientistas europeus do Scientific Brain Training (SBT) com sede em Lyon, na França.

O SUPERA Online – como foi batizado – é a versão em português do site francês Happy Neuron, que estimula cinco grandes funções cognitivas: memória, atenção, linguagem, agilidade de raciocínio e visão espacial.

Cinco mitos sobre a memória

cinco-mitos-sobre-memoriaO que somos é definido por nossa memória. Nossa personalidade e nossa vida dependem dela. Assim sendo, é normal que ela esteja no centro de nossas preocupações. No entanto, apesar da evolução do conhecimento, ainda existem muitos mitos sobre o funcionamento dela. Seguem abaixo os cinco principais:

  1. Nossa memória de longo prazo é semelhante à memória de um computador

ERRADO: Nossa memória de longo prazo e um computador tem propriedades exatamente opostas. Para começar, ela é ilimitada. Ao contrário da memória do computador, ela não fica cheia. Na verdade, acontece justamente o inverso: quanto maior o conhecimento sobre uma área específica (música, idiomas, literatura…), maior a facilidade para adquirir novas informações sobre esta área. E a recíproca é verdadeira! Se você tiver pouco ou nenhum conhecimento sobre uma disciplina, será muito mais difícil memorizar informações relacionadas a esta disciplina. Além disso, uma informação estocada na memória do computador permanece imóvel, enquanto nossa memória de longo prazo está sempre em mutação. Cada nova lembrança que entra no seu cérebro pode modificar as lembranças já estocadas nele. Por exemplo, se você sempre acreditou que a memória de longo prazo era igual à memória de um computador, o simples fato de ler e memorizar esta matéria irá modificar seu cérebro, uma vez que corrigirá suas lembranças antigas sobre o assunto.

  1. Depois dos 20 anos só perdemos neurônios

ERRADO: Em 1998, os cientistas Peter Eriksson e Fred Cage comprovaram a existência de uma neurogênese (fabricação de novos neurônios) no cérebro. Essa neurogênese pode acontecer durante toda a vida. Para estimular este processo, são necessários cinco elementos: otimismo, curiosidade, boa gestão do estresse, alimentação saudável e atividade física regular.

  1. O cérebro se forma até os seis anos

ERRADO: A plasticidade do cérebro faz com que ele consiga sempre se readaptar em função de seu ambiente. Nosso cérebro evolui constantemente, desde que tenha novas experiências para processar. Cada experiência nova cria e ativa conexões. Uma pessoa que sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) pode recuperar funções destruídas graças à plasticidade do cérebro, ou seja, a capacidade do cérebro de criar novas conexões em suas áreas ainda saudáveis.

  1. Usamos apenas 10% do nosso cérebro

Este é sem dúvida o maior mito sobre o cérebro. Apesar de muito interessante, essa ideia é falsa. Utilizamos 100% do nosso cérebro, e nenhuma zona fica inativa. Claro que não usamos 100% de nossas capacidades de forma simultânea, mas 100% de nossos circuitos são ativados em um momento ou outro, como mostram as imagens por ressonância magnética funcional. Qualquer lesão impacta o funcionamento do cérebro, órgão de aproximadamente 1,3 kg que consome sozinho 20% de todos nossos recursos em oxigênio e glucose. Já pensou se todo esse consumo, já gigantesco, servisse para ativar apenas 10% de nosso potencial?

  1. Existe apenas um cérebro

ERRADO: Temos um segundo ‘cérebro’ no intestino, conhecido como cérebro entérico. Este cérebro, também chamado de sistema nervoso entérico, é formado por mais de 100 milhões de neurônios organizados em rede em todo o tubo digestivo. O sistema nervoso entérico se comunica com o sistema nervoso central através do nervo vago.

Fonte: Isabelle Simonetto, doutora em neurociências e especialista em memória

Tradução: Yann Walter

Treino cognitivo pode ajudar sobreviventes do câncer de mama

treinamento-cognitivo-pode-ajudar-cancer-de-mamaEstudos indicam que até uma parcela dos sobreviventes do câncer relatam dificuldades com concentração, memória e velocidade de raciocínio. Embora sutis, essas perdas de desempenho mental podem ter um impacto significativo na qualidade de vida dessas pessoas.

Originalmente, acreditava-se que isto seria um efeito colateral da quimioterapia, mas as causas reais ainda não são claras, pois pessoas que nunca passaram por quimioterapia também relatam perdas cognitivas.

Independentemente da causa, essa mudança cognitiva associada ao câncer é um efeito inesperado, angustiante e prolongado, podendo durar de poucas semanas até vários anos, dependendo do indivíduo. Mas um estudo com sobreviventes do câncer de mama mostrou resultados promissores para o uso de treinamento cognitivo para melhorar os sintomas e, consequentemente, a qualidade de vida.

O propósito do estudo era fazer uma avaliação preliminar da eficácia, bem como da satisfação e aceitabilidade, de um treinamento de memória e velocidade de processamento. A eficácia do treinamento foi avaliada através do desempenho em testes neuropsicológicos objetivos de memória e velocidade de processamento. Também foi avaliado a percepção do desempenho cognitivo, o incômodo com os sintomas, a qualidade de vida, e a satisfação.

Um total de 82 participantes foi dividido em 3 grupos: um fez um treinamento de memória, outro de velocidade de processamento, e um outro serviu de grupo de controle (não participou de treinamento). O treinamento levou entre 6 e 8 semanas, onde os participantes realizaram 10 sessões de treinamento com 1 hora de duração. Todos foram avaliados antes do treinamento, logo após o treinamento e também 2 meses após o treinamento.

Os resultados indicaram que os dois tipos de treinamento melhoraram o desempenho dos participantes na função em que foram treinados, ou seja, quem treinou a memória, melhorou a memória, e quem treinou velocidade de processamento, melhorou a velocidade de treinamento. Até aí não há muita novidade, pois é basicamente o efeito da plasticidade do cérebro. Mas também verificou-se que quem treinou velocidade de processamento também teve uma melhora de desempenho na memória.

Os dois treinamentos também foram associados a melhoras na percepção do desempenho cognitivo, no incômodo com os sintomas e na qualidade de vida. Notas de satisfação e aceitabilidade também foram altas nos dois treinamentos.

A conclusão foi de que os dois treinamentos são promissores, pois resultaram em efeitos imediatos e duradouros. As descobertas desse estudo culminarão num outro estudo em larga escala para identificar um tratamento efetivo para o comprometimento cognitivo em sobreviventes de câncer de mama.

Enquanto esse novo estudo não é concluído e publicado, o programa de treinamento cognitivo oferecido pelo SUPERA Online pode ser um ótimo aliado para melhorar o desempenho cognitivo nas mais variadas funções: memória, atenção, raciocínio lógico, linguagem e visão espacial. Experimente!

Fonte: Diane Von Ah e outros, Advanced cognitive training for breast cancer survivors: a randomized controlled trial, Breast Cancer Research and Treatment, October 2012, Volume 135, Issue 3, pp. 799-809

Subir em árvores melhora as funções cognitivas

Tente tocar seu nariz e fechar seus olhos ao mesmo tempo. Fácil, não é? O motivo pelo qual você consegue fazer isso é a propriocepção, também chamada de cinestesia, uma capacidade específica que nos permite perceber a posição das diversas partes de nosso corpo no espaço.

A propriocepção influencia nossas capacidades cognitivas, principalmente a memória de trabalho, ou memória de curto prazo. Esta é a conclusão de um estudo recente que demonstrou um aumento significativo da memória após exercícios específicos, como subir em árvores.

Subir-em-arvores-melhora-as-funcoes-cognitivasMesmo que você não tenha consciência disso, seu cérebro reconhece constantemente a posição de cada parte de seu corpo. É como um sexto sentido, salvo que, ao contrário dos outros cinco, este corresponde a uma percepção interna, e não externa, do organismo. A propriocepção funciona através de receptores localizados nos músculos e ligamentos e nos ajuda, entre outras coisas, a encontrar nosso equilíbrio.

Os pesquisadores Ross e Tracy Alloway, do departamento de psicologia da Universidade da Flórida, procuraram avaliar o efeito de atividades envolvendo propriocepção na memória de trabalho, que nos permite estocar e tratar temporariamente informações enquanto executamos uma ação.

O estudo foi realizado com voluntários de 18 a 59 anos. A memória de trabalho deles foi testada antes de uma série de atividades envolvendo propriocepção, como subir em árvores, se equilibrar em um galho, correr descalço ou passar por cima, por baixo e entre objetos diversos.

Após duas horas de atividades, a memória de trabalho dos voluntários foi testada novamente. Foi constatado, então, um aumento de 50%. Para os pesquisadores, este crescimento significativo se deve ao dinamismo das atividades propostas. Como as atividades realizadas envolveram constantes mudanças de ambiente, o cérebro teve que fazer frequentes atualizações de informação para se adaptar a estas mudanças. Para isso, o cérebro utiliza justamente a memória de trabalho. Ao contrário, atividades proprioceptivas estáticas, como yoga, não tiveram os mesmos efeitos.

“Os resultados do estudo sugerem que ao efetuar atividades que nos fazem refletir, podemos treinar nosso cérebro tão bem quanto nosso corpo”, afirmou Ross Alloway. “Melhorar a memória de trabalho pode ter efeitos positivos em muitos aspectos de nossa vida, e é interessante saber que as atividades proprioceptivas podem fazer isso em tão pouco tempo”, acrescentou Tracy Alloway.

Fonte : Alloway R.G., Alloway T.P. The Working Memory Benefits of Proprioceptively Demanding Training: a Pilot Study 1,2. Perceptual and Motor Skills, 2015; 120 (3): 766 DOI:10.2466/22.PMS.120v18x1

Traduzido por Yann Walter

Cientistas dos EUA criam ‘minicérebro’ em laboratório

^23A87F114BB36400738AFA8BFE1F99A9BA228482C9497D8C06^pimgpsh_fullsize_distrPesquisadores norte-americanos desenvolveram em laboratório um ‘minicérebro’ humano, abrindo um novo leque de possibilidades para as ciências cognitivas e o combate a doenças neurológicas como o Alzheimer.

O professor de farmacologia René Anand, da Universidade de Ohio, destacou que este cérebro, desenvolvido in vitro, tem o tamanho de uma borracha de lápis e apresenta a estrutura cerebral de um feto de cinco semanas com vários tipos de células, todas as principais áreas do cérebro e uma medula espinhal. No entanto, não possui sistema de vascularização.

Os pesquisadores esperam que seus trabalhos permitam testar com mais facilidade os efeitos de tratamentos experimentais no cérebro, num momento em que a comunidade científica se mobiliza para tratar doenças cerebrais atualmente incuráveis.

“É um modelo fácil de duplicar, que pode ser criado com todas as variáveis genéticas que geram estas doenças neurológicas. Ele nos dá, portanto, um acesso incrível a elementos inéditos”, disse o professor Anand.

Junto com alguns colegas, René Anand criou a startup NeurXstem para comercializar este processo de fabricação de cérebros in vitro. Assim, outros cientistas poderão observar os efeitos de uma doença ou de um tratamento pré-clínico em cérebros humanos, em vez de usar cérebros de ratos.

Os resultados do estudo conduzido pelo professor Anand ainda não foram publicados nas principais revistas científicas, como Nature ou Science.

Tradução: Yann Walter

Fonte: http://www.lefigaro.fr/sciences/2013/08/29/01008-20130829ARTFIG00470-un-cerveau-embryonnaire-fabrique-en-laboratoire.php